terça-feira, 23 de março de 2010

Inexplicável


INEXPLICÁVEL


Todos os Domingos de manhã o Cláudio fazia o mesmo. Acordava, tomava o seu banho, um saudável pequeno almoço, vestia um belo fato de treino, ténis a condizer com o homem de bom gosto que é e sempre foi e na companhia do seu mais fiel amigo, o Doberman “Apolo”, lá iam até àquela praia deserta, porque o tempo e a estação, convidavam a tudo, menos a saborear as delícias de um mar encapelado de ondas altíssimas.
Era o mês de Fevereiro, um Fevereiro seco e muito frio. Mas o Cláudio chegava à praia, estacionava aquele carrão e era só abrir a porta, que Apolo corria desembestado, alheio à temperatura, já que gripe era coisa que não pegava e “como amigo não empata amigo”, enquanto o belo do animal corria e farejava, brincando de “Vira latas”, classe invejada só de vez em quando pelos cães de luxo, Cláudio sentava-se num rochedo com o jornal na mão, sem conseguir ler.
Aquele momento era tão especial, que notícia alguma poderia manchar a sua meditação. O seu olhar profundo, fixado no horizonte em busca de algo que o transcendia, aquela paz que não achava neste Mundo revolto e controverso, estava ali, naquele vai e vem das ondas que um dia, lhe iam pregar uma partida com a chegada dum barco, trazendo apenas uma única passageira.
Era uma mulher lindíssima, nos seus trinta e poucos anos, de pele branca acetinada, uns cabelos dourados, compridos, cheios de caracóis e soltos à brisa marinha que emolduravam um rosto belo, perfeito, mas angelical, onde dois olhos azuis, mais pareciam dois pedacinhos arrancados ao céu, vestia de pureza e pecado, pois o branco de anjo, deixava transparecer o corpo escultural, feito tentação. Na cabeça, uma coroa de flores silvestres com o perfume do infinito……….
Meu Deus!!!!!!!!!!!!!
Mas o que é isto?
Tanta beleza……… a mulher com quem sempre sonhe, aqui na minha frente! Vinda de onde, como e porquê? Só pode ser ao meu encontro e não é miragem!
E à medida que caminhava para ele, os pés que se enterravam na areia e mesmo assim com uma delicadeza, encurtavam a distância entre eles, embora o Cláudio apenas de rompante, tivesse saltado do rochedo onde havia se sentado, sem sequer se mexer, tal era o espanto e fascínio...
Naquela praia se conheceram, trocaram palavras e carícias lindas, confessaram pecados inconfessáveis e amaram-se até à loucura, naquele Domingo e em todos os que se seguiram.
Cláudio vivia feliz, como nunca tinha sido até então, as semanas duravam eternidades de Domingo a Domingo e Cláudio tinha que acabar com aquele sufoco, com aquela ansiedade. Estava decidido, no próximo Domingo, iria trazê-la consigo, sem perguntas ou condições, enfrentaria qualquer situação, para dar continuidade à sua louca paixão.
O Domingo que teimava em chegar mais do que os outros, chegava enfim. Tudo igual, a mesma espera, o mesmo olhar fixo naquele horizonte, só que a sua amada nem sequer despontava lá longe. Esperou, desesperou a hora do almoço já ia longe. O sol começava a desaparecer na linha de água, o desespero, a tristeza, a incerteza, a dor da ausência e todas as dúvidas, começavam a dar-lhe uma sensação de agonia……. Aquilo não podia estar a acontecer com ele, não agora, depois de tudo vivido. O que tinha acontecido entre eles, tanto amor, loucura, promessas e a grande cumplicidade, não podiam apenas ser sonho.
Eis senão, quando é despertado pelo Apolo, que correndo para ele, trazia na boca a coroa de flores, que a sua misteriosa amada, sempre usava nos cabelos.
Até hoje, não sabendo como nem porquê, Cláudio viveu a mais feliz, mas também a mais inexplicável história de amor.

Milena Guimarães

1 comentário:

  1. Olá minha amiga,

    Sempre escreveste, escreves e escreverás muito bem. De maneira estusiasmada e entusiasmante. Pedaços de vida, tocando extremos que se unem.
    Se me é possível, sugiro-te que trabalhes para uma compilação e posterior publicação.
    Valia a pena........

    Mil abraços miguinha. Te espero ansiosamente.

    Saudade

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