sábado, 27 de março de 2010

PESADELO





PESADELO


Sem versos na hora da solidão, salpicando o vazio de rimas atordoadas em pingos de ironia, ria com vontade louca de chorar.
Rasgava por dentro, abrindo caminhos nunca dantes percorridos e com os pés sangrando, esmagava as folhas secas de medo, permitindo-se castigar pelos laços desatados, um a um, do cais onde nunca tinha conseguido embarcar.
E num mar por inventar, dobrava todos os cabos, bebia todas as tempestades, que apenas iam fustigando o seu corpo, em frágeis tentativas de um abraço.
Os beijos amordaçados nas bocas caladas da noite, gritavam pelas migalhas esfareladas, na esquina do seu lençol.
E no frio regelado das águas revoltas, rumo ao nada, sentia-se presa e esmagada pelo peso do seu desencanto.
Tatuada pelo sol escaldante do deserto, rasgava janelas na sua pele e estendia os braços, apertava os dedos, com a raiva de quem quer agarrar frutos frescos das mil e uma noites perdidas, onde só tinha ouvido contar histórias de encantar.
Gargalhadas estridentes em bocas desdentadas, batiam palmas de desdém ao seu infortúnio, pisando-lhe a alma, ponteada no seu próprio pavor.
E em sedes insaciáveis, babava pelo canto da vida, espreitando o seu corpo nu, pobre e ausente de mãos suaves em toques e gestos de veludo, que tinham conseguido todos os orgasmos, mesmo aqueles abortados por falta de cumplicidade.
Embalava a morte com cantigas de menina, adormecida na antecâmara do desespero, embrulhada nos retalhos daquela noite, que teimava em não ser “outro dia”...
Ai... que pesadelo...
Que horas são?

Milena Guimarães

3 comentários:

  1. Quando a noite chega
    Um manto negro cai sobre mim.
    Meus pesadelos ganham asas
    E sinto-me abafado por meus fantasmas.

    Quando a noite chega,
    Meus medos ganham cor
    Até mudam de tamanho,
    E pernoitam sobre meu leito.

    Quando a noite chega,
    Meus terrores sobrevoam minha cama
    Já suada por meus sonhos abalados,
    Viajo então, não para o paraíso,
    Mas para um inferno de dor e sofrimento.

    Quando a noite chega,
    Meu coração acelera,
    Perante o perigo de mais uma ilusão,
    Que já nem é realidade.
    Perante uma tristeza de mais
    Um amanhecer cansado.

    Milene, Tão triste... Caso para dizer
    afasta de mim este cálice
    de medos, pesadelos, terrores,
    fantasmas...
    Há que dormir um sono descansado...
    Para acordar capaz
    De enfrentar um mundo audaz!

    Um forte abraço,
    Jorge Machado

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  2. Jorge,
    Muito honrada me sinto pela tua participação.
    Quanto à tua escrita, nessa forma poética...francamente boa...belo casamento entre o texto e o contexto. Vai em frente, cria um blog...é a melhor maneira de partilhar "tão sentido sentir".
    É muito bom ter-te aqui...
    Beijo bom,
    Milena

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  3. Milene,
    Gostei muito do teu blog e do que nele li!!
    Os poetas têem magia...alimentam-nos a alma
    e sem dúvida que nos ajudam a sonhar...
    Em relação em criar um blog, está no pensamento!!
    Beijos n´Alma
    Jorge

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