domingo, 6 de novembro de 2011


FLUTUANDO


Flutuando na imensidão dos oceanos, nadando nos mares da incerteza, livre das virtudes e cheia de pecados, entre príncipes, fidalgos, poetas, artistas, artesãos, doutores, operários, prostitutas, vigaristas, loucos, enfim, gente feita de barro comum, sem a garantia da eternidade, vivo todos os dias de Sol, todas as noites de Tristeza e todas as manhãs de Alegria, aperfeiçoando a cada momento a linguagem da ternura e da paixão, porque só com ela, se aprende a soletrar a pauta da vida em todos os sons, de dor, sofrimento, castigo, carência, frustração, alegria, desejo, vontade, prazer, concretização, êxtase, permitindo que todos os sentidos descubram e abracem novas paragens que fugazmente me deliciam e fascinam.
E com um punhado de sonhos no coração, como única bagagem na mochila que carrego nas costas, continuo caminhando ao longo de todos os impossíveis, sempre abordada pela loucura, que tantas vezes tem matado a sede, neste meu percurso de perigosos caminhos, distantes céus e inatingíveis realidades.
Mas, teimosamente consigo enxergar que os sonhos existem para serem sonhados e entre o desejo incontido de os realizar e a certeza de os viver, sobra apenas o tempo da Espera, sentada no fascínio da Esperança de que “ UM DIA VÃO ACONTECER”.

Milena Guimarães

NASCIMENTO


Nasci das palavras…
O meu nascimento aconteceu no dia em que pela primeira vez escrevi e o encontro com a vida transbordou de paixão, quando o papel me abraçou de encontro ao seu peito nu e me permitiu brincar com ele, crescer, rir, chorar, sonhar... mas sem nunca deixar de ser criança e em inocentes carícias, ansiando sempre o longe…
Hoje na fornalha da vida, sinto o fogo que me incendeia, agarro as labaredas, solto fogos de artifício e beijo as estrelas.
Sinto o cheiro forte da terra que me leva a tirar a roupa, enrolar-me com ele no chão e deixar que me possua.
Sinto a vontade desmedida de despir a própria pele e sem rodeios, esticar os braços, abraçando o meu abraço e sem máscara, abrir os olhos e ver a linha do horizonte por onde passa o comboio, que me transporta em todas as viagens, para além do imaginário e assim… suavemente o dia começa, como uma gaivota que encontra o seu companheiro de viagem, onde se esfrega a rebeldia de uma fuga, com quem se chega a um “porto seguro” plena de felicidade, pela enfim sonhada e tão desejada partilha do encontro no encontro, porque sempre agarra a vida, quando esta se dá inteira.
E o papel lá…indiferente ao tempo que passa, pois para ele o momento é sempre agora...não esqueço o sábio mestre que me falou de todas as esperas e das muitas que nunca chegam.
Com ele aprendi o muito do pouco que hoje sei. Com ele partilho as dores e as flores que vou desfolhando ao longo deste meu caminho, cheio de infindáveis atalhos onde tanto me tenho perdido. Com ele me embrulho e enfeito os momentos que fantasiam os meus dias.
A ti papel…com quem me deito e permito ser tua...o meu eterno agradecimento pela cor do meu sono…com a predestinação de todos os meus sonhos.


Milena Guimaraes

terça-feira, 1 de novembro de 2011


SEXTA-FEIRA

Aquela sexta-feira prometia ser uma grande noite a exemplo de tantas outras, mas de repente, percebi que nem a Lua me iria fazer companhia, então resolvi deitar-me no sofá, cobrir-me com a manta da solidão e entre os retalhos da vida, fui dando largas à minha imaginação, tentando assim montar o puzzle da ausência.
E as coisas que não quero, as coisas que não peço, começam a desfilar na minha mente, com gestos ousados em silhuetas atrevidas, como que me desafiando à tortura da dor, testando assim a minha cumplicidade com o gosto amargo da saudade e da incerteza.
Por onde andará quem alimenta os meus sonhos?
Entre conjecturas e dúvidas fica a certeza que para sonhar, basta apenas um coração rasgado pelo cansaço de uma espera em vão, e aí sim, pela incompetência de ler os sentimentos de qualquer pessoa, resta-me o fascínio de pôr à prova o meu próprio sentimento, porque este sim, tem o meu testemunho.
E lá me fui aconchegando no dito sofá, fazendo uma grande mistura com os pingos de raiva que salpicavam o mistério daquela noite, num corpo quente feito o mar do meu desencanto.
Mas tinha-me proposto sonhar, embora a falta da paleta com cores vivas, representasse um obstáculo à minha fantasia, mesmo assim, lá fui rompendo o fantasma da dúvida com mil perguntas que insistiam em não terem repostas.
Valerá a pena dividir, quando percebemos os dividendos mal aplicados no mundo fantástico do Amor?
Valerá a pena apostar na corrida da vida, correndo riscos de não chegar à meta?
Valerá a pena esperar alguém, que nem sequer viajou rumo ao seu destino?
Valerá a pena alimentar sorrisos de esperança, quando lágrimas de desalento correm rebeldes no meu rosto?
Valerá a pena aceitar o desafio, rasgando o véu de todas as sombras que teimam em manchar a minha vida?
SONHO ou PESADELO… eis a questão!
O Sonho aquece a alma, incendeia a vontade louca de agarrar a própria vida.
O PESADELO foi aquela noite de sexta-feira, que prometia ser uma grande noite, mas evadiu-se na penumbra do medo de não conseguir mais alimentar os MEUS SONHOS!

Milena Guimarães