domingo, 6 de novembro de 2011


NASCIMENTO


Nasci das palavras…
O meu nascimento aconteceu no dia em que pela primeira vez escrevi e o encontro com a vida transbordou de paixão, quando o papel me abraçou de encontro ao seu peito nu e me permitiu brincar com ele, crescer, rir, chorar, sonhar... mas sem nunca deixar de ser criança e em inocentes carícias, ansiando sempre o longe…
Hoje na fornalha da vida, sinto o fogo que me incendeia, agarro as labaredas, solto fogos de artifício e beijo as estrelas.
Sinto o cheiro forte da terra que me leva a tirar a roupa, enrolar-me com ele no chão e deixar que me possua.
Sinto a vontade desmedida de despir a própria pele e sem rodeios, esticar os braços, abraçando o meu abraço e sem máscara, abrir os olhos e ver a linha do horizonte por onde passa o comboio, que me transporta em todas as viagens, para além do imaginário e assim… suavemente o dia começa, como uma gaivota que encontra o seu companheiro de viagem, onde se esfrega a rebeldia de uma fuga, com quem se chega a um “porto seguro” plena de felicidade, pela enfim sonhada e tão desejada partilha do encontro no encontro, porque sempre agarra a vida, quando esta se dá inteira.
E o papel lá…indiferente ao tempo que passa, pois para ele o momento é sempre agora...não esqueço o sábio mestre que me falou de todas as esperas e das muitas que nunca chegam.
Com ele aprendi o muito do pouco que hoje sei. Com ele partilho as dores e as flores que vou desfolhando ao longo deste meu caminho, cheio de infindáveis atalhos onde tanto me tenho perdido. Com ele me embrulho e enfeito os momentos que fantasiam os meus dias.
A ti papel…com quem me deito e permito ser tua...o meu eterno agradecimento pela cor do meu sono…com a predestinação de todos os meus sonhos.


Milena Guimaraes

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