DEIXA-ME…
Mais um dia onde me invento na incerteza de um amanhã. Cada vez mais
mergulho no que desconheço, tentando ultrapassar qualquer entendimento, no
desespero, na tormenta, na loucura, para suavemente saborear este “doce amargo”
entardecer, embora os aromas da ternura e os incensos da paixão teimem em
chegar pela distância dos tempos.
E na saudade do “ontem”, busco tudo na certeza do “vivido”, removendo a
terra onde me embrulho neste oásis de inquietude. Lá me vou dando ao vento que
passa para agonizar na próxima aventura.
Noites intermináveis, longas histórias, poemas de amor, o eterno
mistério…amargo talvez, de um destino por cumprir.
As horas, os minutos marcam, marcam tanto, marcam tudo o que partiu
antes do tempo, porque impossível para mim, foi sempre parar o próprio tempo.
Vem nascer de novo ao meu lado. Ensina-me que todos os caminhos começam
nos meus dedos. Fala-me das palavras mudas que beijam sofregamente o rosto da
noite. Inquieta-me com ameaças de abandono, porque sempre ultrapassei os
limites.
Sabes? Apetece-me um chão cheio de sol. Um vento inocente que enxugue
as minhas lágrimas. Um rio de infância que desague nos meus lábios de mulher. O
amarelo dos campos de trigo que se confunda com o por do sol. O vermelho da
cereja no meu bolo de aniversário. A chuva rasgada lavando as pedras da minha
alma. A eterna lua a quem sempre entreguei os meus pensamentos.
E porque tudo isto é tão pouco…tudo isto é tão nada…
Deixa-me ficar contigo…deixa-me ficar em ti…deixa-me continuar ao teu
lado, VIDA!
Milena Guimarães
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