domingo, 14 de outubro de 2012


                                                RENASCER


 

 

         Fechei os olhos e devagar acordei… no recolhimento da memória de tantas vidas, no limiar das trevas...

         Não mais as sombras de pálpebras entreabertas, ao peso do eco de janelas sem nome, tristes e lúgubres...agora sei e sinto que todos os dias nascem bonitos...

         Espreito a vida e toda ela se revela num perfeito furacão, onde a plenitude se desnuda e me oferece os verdadeiros sentidos, ajoelhada aos pés do deslumbramento do “nunca vivi isto antes”...

         Finalmente nego todo um passado, para abraçar um hoje, onde tudo é realmente um momento de prece, na boca do tempo, do espelho do meu pensamento.

         E porque existem manhãs de sonho, com cheiros frescos de ervas orvalhadas, sons de chocalhos subindo e descendo montes, de cores quentes da terra, de azuis descerrando todas as cortinas de névoa, entregando-me em mãos, à doce espera da chegada da lua cheia, para feita Princesa Encantada, tomar posse do meu Reino, onde rios prateados nas suas sedes, calmamente deslizam em seus leitos, desaguando na foz dos seus desejos, onde todas as coisas claramente, enchem o meu Mundo, como quem tem um destino a cumprir, premiando-me com a extraordinária grandeza, do infinito fascínio de tudo tocar com os meus “olhos de lince”.

         Bem haja ao equilíbrio possível da descoberta, aos mestres, aos sábios, aos poetas, aos corajosos, aos inventores, aos audases, aos loucos, aos amigos, que lutam e anseiam pelo novo, devolvendo vidas em pleno à própria vida, que enche de luz as noites escuras, que perfuma e delicia os contornos, no mais singelo pormenor, transformando-o em “grande”.

         Por tudo isto e mais o que a força das palavras, me permite afirmar... renasci e vos entrego o meu testemunho estarrecido, escrito nas estrelas, que me envolvem e me deram o entendimento sábio de tudo enxergar...

         No segredo do gesto, no decifrar do enigma, no consumo da vertigem, no sortilégio dum momento inesperado, na harmonia da coragem, na aventura breve do impossível, desaguei finalmente em mim, em plena consciência da vida que fala no comportamento vasto do tempo de viver, porque é Tempo de Viver...que aprendo agora a saborear em cada segundo da minha existência...

 

 

         Milena Guimarães

 

MULTIPLICAÇÃO

 

 

                  Multiplico-me no adormecer da noite, pois só no sonho rompo fronteiras, percorrendo todos os caminhos e falando com as estrelas, desalinho as páginas da vida e consigo fazer alquimia em desejos inconfessáveis.

                  E porque existo, não só em momentos tão especiais como este, onde a minha obra se alicerça em rascunhos trémulos na mão que desliza no cavalete da minha ilusão, mas em todos sem excepção...vou-me permitindo amontoar papéis ao lado de toda uma vida feita de tentativas, em busca de tantas perguntas, sem sequer obter uma resposta que seja.

                  Mas, não é a certeza que procuro, talvez a incerteza preencha mais e mais o colorido de todas as telas, que sem lugar marcado para exposição, aguardam com imensa inquietude que alguém vestido de nudez, em desmedidas vontades na sua existência…as olhe, as toque suavemente, as sinta e quem sabe até as possa possuir.

                  E não me dando conta da minha presença, passo ao lado de todo um vazio, preenchido tantas vezes pelo nada, que nem sequer consigo aplaudir este lugar de destaque onde apenas sonhando, toco as raias da loucura, porque sinto, vejo, enxergo e partilho esta vontade insaciável de continuar ao “jogo”, mesmo fazendo “bleuf”, acreditando sempre na vitória final.

                  E com o sangue frio de uma verdadeira jogadora, lá vou perdendo e ganhando, mas sempre somando momentos de alento, tantas vezes regateados no próprio desalento, enriquecendo sim, cada vez mais, este pecúlio chamado “vida”, apostado irremediavelmente no pano verde da minha ESPERANÇA.

 

 

 Milena Guimarães

sábado, 13 de outubro de 2012

FAZ

 
Faz pra  mim, faz comigo...
Tudo o que não tiver sentido...
Abraça-me, enlaça-me nesse teu peito forte,
Pois só o vento norte
Saberá dos nossos segredos, dos nossos desejos...
Toma-me e enquanto tua...
Faz-me nua...
E se preciso for,
Podes até me virar do avesso...
Destilar, gota a gota o teu suor,
No meu suor,
Infernizando o sublime momento
Enraivecendo a eternidade.
Porque do longe se faz perto,
Do incerto se faz certo
E mesmo errado...
Será pecado?
Então...
Com alma, com coração...
Com ou sem sentido...
Faz pra mim...faz comigo..
Tudo o que faço contigo!
 
 
Milena Guimarães
 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

                                               NOITES

 
 
Noites frias!
Quentes ou vazias...
Dependem apenas de quem segura a tua mão,
De quem aquece o teu coração...
De quem te ouve, de quem te fala,
De quem te sente, porque consente...
De quem te tem...
Pode até não ser ninguém...
Que importância tem?
Só tu sabes com infinita sabedoria.
Pegar no nada e em tudo o transformar...
Por alquimia ou apenas te enganar?
Não precisas de responder...
Deixa, como sempre... acontecer...
Porque o frio, o calor ou o vazio,
São simplesmente pedaços, instantes.
De uma vida plena,
Que nada tem de serena…tudo te é ausente,
E ninguém percebe, ninguém sente…
Que vives, não por viver…
Aperta, segura a minha mão…
Como eu entendo e entro na tua solidão…
Mas tenho a certeza,
Sei, sinto e escuto,
Que em cada minuto,
Viverás pra valer!
E será teu todo o tempo…
O teu tempo…
Escrito,
No teu infinito!
 
Para ti Daniel Martins, de quem tanto gosto, respeito e admiro.
Obrigada pela tua existência!
 
 
Milena Guimarães