sexta-feira, 4 de outubro de 2013

 
 
 
 
 
Doi-me tanto a saudade nestas madrugadas vazias, de acordar em conchinha nas curvas do silêncio feito de mil cumplicidades.
Espreguiçar ao longo do teu corpo, porque a nossa pele é gémea, sentir o arrepio das palavras sussurradas na nuca dos meus sentidos.
Saltar da cama de mãos dadas, abrir a cortina, escancarar a janela do atrevimento e através da neblina, enxergar um horizonte perdido, que de braços abertos, sorri e oferece-
me a própria tentação da vida.
Doi-me tanto a saudade do errado e certo de todas as emoções vividas em partilha com o consentimento de nunca acabar.
Das conversa, brincadeiras, sorrisos, promessas e juras com a fúria da loucura, em cada gesto, em cada grito de que tudo seria felicidade.
Doi-me tanto a saudade de ter-te carregado no meu colo de mãe, amante e mulher enternecida, cantando melodias de embalar, na secreta magia dos meus sonhos.
De sair por aí, agarrar o vento e em suas asas orvalhadas de cristal, parar o tempo, contemplar-te porque inventaste a minha vida.
De percorrer as ruas das nossas mãos e desaguar no labirinto da nossa memória, onde nada é igual porque nos reinvantamos todos os dias.
Doi-me tanto a saudade das lágrimas transformadas em sorrisos, no doce murmúrio, porque tudo eram incertezas no silêncio de tanto te amar que quase enlouqueci.
Dos pensamentos que sempre acabavam em ti, no início e fim dos meus dedos procurando os teus.
Doi-me tanto a saudade!

Porque atravessaste o punhal da ingratidão no meu corpo encantado de tanto te amar, mais e mais em cada instante?
Porque fugiste de mim, sem ao menos um sinal de que voltarias um dia qualquer?
Porque me traiste maldita juventude?


Milena Guimarães