AO MEU LADO
Mais um dia de céu cinzento persegue o meu tempo, que seria de romaria,
se esta angústia fechada nas minhas mãos, voasse para um mundo, onde este lhe
oferecesse apenas a verdade de não existir.
Mas trocaram-lhes os fusos e a noite chegou vestida de mil lágrimas,
onde mergulho e não me entendo, cansada, adormecida nos sonhos silenciados, mas
tão precisos nesta montanha plena do meu ser.
Aproximo estes medos e quero agarrar a mão do pensamento, sem vertigens,
na imensidão do vento que brinca com o alfabeto dos vícios, dos cheiros, dos prazeres, do sexo e quem sabe talvez do amor, escondendo-os na
íngreme escalada do impossível.
Saborear o segredo da descoberta num intervalo longínquo, com memórias
da distância, despida de inquietudes, descobrir atalhos nus, que me permitam rasgar aos pedaços, tudo que
sobrou de uma herança guardada na noite de todas as noites.
Abriguei-me da tempestade, despi-me das lágrimas e sentada na soleira do
meu querer, pensei, pensei muito e dei comigo a vaguear na minha condição de ser. Ser com o desespero de estar
viva, com a coragem de tudo o que não quero, de me buscar e sem saber, perceber-me aqui ao meu lado.
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