quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

 

 
 
                                         CONFESSO             
 

Confesso que sempre vivi sem reticências, sem interrogações, com o fascínio das promessas, sem motivos para ficar, permitindo-me ser livre e louca o bastante, para deixar a minha essência florir.

Nesta possibilidade surpreendente de existir, fui vivendo à sombra dos meus gestos, das minhas atitudes irreverentes, das palavras sem aspas, sem ponto final.

Confesso, assim me fiz errante no deserto e na poeira dos tempos, fui superando todas as minhas tempestades, no limiar da minha inquietude e na frequência das coisas, no imperfeito amanhã, fui percebendo que só o "hoje" é imperativo.

Em gigantes carinhos, em mãos que se entrelaçam, consegui   partilhar palavras escritas na poesia do meu pensamento, que sempre voaram nas asas infinitas do vento, com um único destino do arrependimento irreversível, de todos os pecados que não cometi, privando-me de saborear toda uma loucura desejada na tormento do meu desespero.

Confesso, mesmo que os aromas da ternura, os sabores da paixão, os amores mais que perfeitos, tardem pela incerteza dos relógios feitos em areia nas praias de todos os mares, alimento a saudade de mim, busco a certeza de tudo, removendo a terra onde me embrulho, apanhando todos os rebentos, para plantar no quintal de alguma primavera que está para chegar.

 

Milena Guimarães

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