DOR
Nesta tarde
de mil águas, compreendo-me e aceito-me, metade da felicidade e já me basta. O
vento que sopra em desatino constante com
zumbidos por demais tempestuosos, que me traga metade do meu querer e já
me basta. O anoitecer que desponta por de trás das nuvens, que me tire metade
da solidão e já me basta .Para mim o amor fica-me justo, só visto paixão de
corpo inteiro, despir metade da roupa e já me basta. Viajar na inquietude das
minhas incertezas vagueio sem sentido, sem destino, desobedeço aos meus
caminhos, misturo-me na intensidade de um momento, mas um abraço maiúsculo já
me faz dormir, como só as flores dormem e então metade do seu jardim e já me
basta. Na saudade imensa de séculos de existência, de sempre ser pouco com medo
de ser inteira, de tudo ficar distante daqui e ser longe demais, metade da dor
que me envenena a alma e já me basta. Ter tempo para ter o tempo que me sobra,
de tudo o que me apetece fazer nos intervalos de tudo o que desfaço, com a
raiva sentida do imperfeito, metade da
conquista desejada e já me basta.
Mas, agora
penso eu; metade destas palavras todas, bastar-me iam para calar bem fundo este
grito obsessivamente ansioso, que corre
nas minhas veias, desagua na minha alma e tanto fere o meu coração.
Milena
Guimarães
escreves de uma forma muito profunda :)
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