sábado, 22 de fevereiro de 2014

                                            
 
COMPANHIA
 
Só o tempo descobre a beleza do momento que nunca mais será.
Falar das coisas que eu não sei dizer é como estender os braços para abraçar o longe, numa pequena oração de fé, pedindo o perfume dum sorriso, nas pétalas da tua pele.
E numa madrugada que há de vir  em gotas refrescantes de orvalho, quero adormecer nos recantos do teu corpo, em todos os momentos proibidos onde me habituei a ter-te, porque me fazes falta.
É no silêncio que visto, na lágrima que escorre, que não chora, mas que grita, que já não sei ser inteira, já não sei mais ser sem ti.
Tolhes-me a alma com as saudades que se prolongam no tempo. Falta-me o rir na madrugada, mergulhar no inferno, nas chamas inquietantes do demónio que há em ti, de me perder na imensidão de um mar revolto que me ofereces de presente, num grito ensurdecido de paixão que se perde numa maré qualquer.
Mas, não penses que não aprendi a entender-me, na penumbra da inquietação, no refúgio da maresia, na chuva que bate na vidraça, no mistério do tempo que corre veloz, alheio aos movimentos silenciosos dos relógios.
Aprendi, aprendi sim de tanto que me ensinaste.
Aprendi a vestir-me de sonhos e a ter um colo quente onde me aconchego, sentindo o coração bater perdidamente por mim.
E pensando, só assim me liberto do tempo, deixando as memórias, levanto voo de mim.
Afinal que fazes tu aqui nas minhas recordações, se apenas me roubas a minha solidão e nem sequer me fazes companhia!
Milena Guimarães
 

domingo, 2 de fevereiro de 2014


Tudo isso foi ontem. Nada é longínquo nas minhas recordações. As memórias bailam presentes no meu hoje, continuando sem uma receita para a vida e mesmo sabendo que os silêncios não falam, percebo que as palavras nunca são demais, pois traduzem o cumular de todas as emoções.

É na voz da noite que ouço a saudade de um corpo feito um fruto bravo e rebelde, que nada sabe sobre a sua sorte. De mãos completas, indomáveis mas românticas e majestosas, tocando de leve as horas sem fim. Dos caminhos percorridos em noites de lua cheia em busca do sempre amanhecer. Do início das coisas, onde tudo continua fiel e verdadeiro, como os milagres que me encantam e preciso de acreditar. Dos sonhos que me fascinam, que prometo realizar, mas que sempre deixo escapar, pois têm apenas a duração dos relâmpagos enfurecidos e perturbados que rasgam os céus. Do tempo inacabado e inventado, como um naco de pão, seco e só, coberto de nada, na boca de uma criança esfomeada, prometendo-lhe um pingo de mel. Desta mania do meu sofrimento louco, sem tréguas, que se assemelha a um pormenor, apenas solidão. De um filho longe, atravessando a fronteira dos tempos, na espera cruel, de uma chegada cheia de flores.

Saudade, sempre a saudade, correndo feita um furacão, que rasga perdidamente a minha alma, plena de incertezas, coberta de eternos mistérios, à procura de um poema de amor.

 

Milena Guimaraes.